terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Conclusão.



A automedicação pode ser considerada como parte da vida das pessoas, porque é estimulada em função uma série de fatores que se encontram na realidade de cada uma delas. Não praticar a automedicação por essas pessoas é como inibi-las de tomar suas próprias decisões na vida, impedindo-as de procurar uma forma mais viável para tratar suas enfermidades diante dos grandes problemas encontrados nos serviços de saúde e, devido a um cotidiano estressante e a falta de tempo, as pessoas relutam a procurar orientações médicas. Diante disso, o presente trabalho veio como uma forma de entender alguns fatores que fazem com que a automedicação seja tão difundida.

Percebemos, a partir deste estudo, que as pessoas necessitam de certo acolhimento nos serviços de saúde e maior acessibilidade a informações. Investimentos na área de saúde possivelmente mudariam o comportamento da população quanto a automedicação. Muitas vezes um gesto de atenção pelos profissionais de saúde representa muito mais que qualquer medicamento. Dessa forma, chamamos a responsabilidade para os profissionais de saúde, no sentido de promover orientações conscientes. Uma relação horizontal, sem verticalismos e submissões, pode ajudar no combate à automedicação e ao uso indiscriminado de medicamentos, assim como estimular os hábitos de vida que promovam saúde e diminuam as doenças.

É necessária também uma maior divulgação quanto aos riscos da automedicação e mudanças na propaganda de medicamentos. O “ao persistir os sintomas, o médico deverá ser consultado” deveria ser “aos primeiros sintomas, consulte seu médico e o farmacêutico.” O slogan que invade as residências brasileiras todos os dias incita a automedicação!

Lembre-se:

A diferença entre um medicamento e um veneno está na dose. Não existe medicamento sem efeitos colaterais. O bom funcionamento do seu organismo depende de você.

Uso Indiscriminado de Medicamentos em Idosos.




No Brasil, a proporção da população acima de 65 anos está aumentando e o uso de medicamentos nesta faixa etária é muito elevado (é o maior quando comparado às demais faixas etárias). A maioria dos idosos consome, pelo menos, um medicamento, e cerca de um terço deles consome cinco ou mais simultaneamente. A média de produtos usados por pessoa oscila entre dois e cinco.

Além da idade, outros fatores que apontam para o uso de medicamentos têm sido identificados pelo país. No grupo dos idosos, as mulheres mais velhas, com maior renda familiar e com mais sintomas utilizam mais medicamentos prescritos. O tamanho da família e uma má qualidade dos serviços de saúde são fatores que levam ao consumo de produtos de venda sem prescrição médica.

Além dos idosos consumirem mais medicamentos que outras faixas etárias, eles costumam enfrentar diversos problemas relacionados ao uso de medicamentos. O funcionamento do organismo dos idosos é mais lento e isso exige uma redução na dose do medicamento. Além disso, são particularmente mais vulneráveis aos efeitos colaterais, que ocorrem de forma mais freqüente. Os idosos geralmente têm múltiplas doenças, fazem uso de mais de um medicamento, aumentando assim o risco de interações medicamentosas e efeitos indesejados.

Uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro com uma amostra de 634 mulheres sobre a Avaliação da qualidade do uso de medicamentos em idosos, verificou que 52,7% das mulheres faziam uso de 1 a 4 medicamentos, 34,4% utilizavam entre 5 e 10 medicamentos e 3,8% utilizavam mais de 10 medicamentos, regularmente. A maior parte dos medicamentos utilizados foi prescrita por médicos (83,8%), sendo os demais indicados por amigos, vizinhos, através de veículos de comunicação e por balconistas de farmácias e drogarias. As classes terapêuticas mais consumidas foram: complexos vitamínicos (8,7%), analgésicos (8,4%), psicolépticos (6,1%), bloqueadores dos canais de cálcio (5,8%), antiinflamatórios (5,6%), diuréticos (4,8%), antiácidos, antiflatulentos e antiulcerosos (3,7%), ß bloqueadores (2,9%), suplementos minerais (2,7%) e inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) (2,5%).
Quanto à utilização de fármacos inadequados, obteve-se o seguinte: dentre os 2.510 medicamentos utilizados, 84 (3,5%) continham fármacos que poderiam ser substituídos por outros mais seguros, isto é, com menores efeitos adversos. O resultado pode ser melhor observado na tabela abaixo:


Ressalta-se a importância de uma avaliação adequada no momento da prescrição, pois tais associações só tendem a aumentar a incidência de efeitos adversos. A prescrição é um dos fatores capazes de interferir na qualidade e na quantidade do consumo de medicamentos. O profissional responsável pela prescrição, deve possuir, e usar, uma série de informações (dose, custos, via de administração, efeitos adversos e eficácia) no momento da prescrição.

A indústria farmacêutica e seu marketing poderoso são responsáveis pela prescrição e consumo de medicamentos sem eficácia estabelecida e desvinculados da realidade da população. Como a decisão médica a respeito do medicamento envolve, além dos fatores supracitados, as opções de medicamentos existentes no mercado, os organismos responsáveis pela aprovação de "novos medicamentos" devem assegurar a oferta de produtos seguros e eficazes já no registro. A utilização de medicamentos genéricos deveria ser levada em conta por qualquer sociedade que desejasse vivenciar uma política racional de uso de medicamentos.

A população e os profissionais de saúde devem exigir das autoridades sanitárias medidas concretas, no sentido de impedir, ou ao menos diminuir, a presença no mercado de produtos perigosos para a população.

Programas específicos de atenção ao idoso, como as universidades da terceira idade, podem ser importantes locais para realização de programas assistenciais, de educação continuada e de pesquisas, e, também, centros de referência de estudos e formação de recursos humanos.

Atividades educativas, tanto para os profissionais quanto para os alunos, podem ser realizadas, buscando-se o aprimoramento do uso de fármacos pelos idosos. Tais informações poderiam ser transmitidas através de vídeos, palestras e cursos, com ênfase especial no papel que o farmacêutico pode desempenhar como educador.

Cuidados ao usar medicamentos em idosos:

* É fundamental o acompanhamento do idoso pela família nas consultas médicas e na administração de medicamentos.
* É importante não interromper o tratamento, respeitar os horários de administração e as doses dos medicamentos.
* Se observar o aparecimento de qualquer sintoma, suspenda a medicação e procure um médico imediatamente.

Fonte:

Artigo: Avaliação da qualidade do uso de medicamentos em idosos.

Uso Indiscriminado de Medicamentos em Adultos.


Existe uma crença sociológica de que os medicamentos são capazes de solucionar todos os problemas da humanidade. A sociedade evoluiu para um estado em que se utilizam medicamentos em situações que não são totalmente qualificadas como doença. Por vezes alterações físicas meramente estéticas são motivo para uma pessoa consumir inúmeros medicamentos. Dessa forma, observa-se que medicamentos têm sido considerados como bens de consumo e não como um instrumento terapêutico pela sociedade.


No Brasil, são poucos os estudos sobre consumo de medicamentos em adultos. Entretanto, sabe-se que há uma grande diferença de utilização por sexo: mulheres fazem um maior uso de medicamentos. Tal diferença pode estar relacionada com o uso de contraceptivos. Todavia, eliminando-se o uso exclusivo desse grupo medicamentoso, a prevalência ainda é maior do que nos homens. As mulheres possuem maior preocupação com a saúde e procuram mais os serviços de saúde. Além disso, vários programas de saúde (pré-natal, prevenção de câncer do colo uterino e da mama) são voltados para as mulheres; em função disso, elas ficam mais sujeitas à medicalização. Esses fatores podem explicar, ao menos em parte, o maior uso de medicamentos por esse grupo.

A principal causa que leva os indivíduos a se automedicar relaciona-se com sintomas considerados menores como a gripe, a constipação e tosses. Do total de medicamentos utilizados por adultos, os analgésicos e anti-inflamatórios são os que apresentam maior percentual de uso.

Devido a um cotidiano agitado, muitas pessoas recorrem a automedicação, para economizar a consulta médica e o exame diagnóstico. Existem pessoas que fazem uso de medicamentos que sobraram, sem ter certeza de que se trata da mesma doença. Outras não sabem que a indicação do balconista, ou de amigos, pode induzir à compra de medicamentos sem garantia de qualidade. Outras ainda com uma única receita médica, no mesmo dia, compram várias vezes o mesmo remédio e o consome indiscriminadamente. É comum encontrar pessoas que ingerem dose dobrada de uma medicação esperando obter efeito mais rápido, o que não acontece e ainda pode piorar o quadro. Pessoas que tomam medicamentos sem orientação médica justificam que a autoconfiança é o principal motivo para esta atitude, sem contar o forte impacto das propagandas de medicamentos, que favorecem o aumento de casos de automedicação e, consequentemente o consumo indiscriminado de medicamentos.

Uso Indiscriminado de Medicamentos em Jovens.


Usar medicamentos por conta própria também faz parte dos hábitos de diversos adolescentes em todo o mundo. Com o intuito de curar alguma doença, alcançar o bem-estar pessoal ou uma
aparência física desejável, os jovens se tornaram adeptos dos mais diversos tipos de medicamentos, desde um comprimido para dor de cabeça, até calmantes, estimulantes ou antidepressivos. Tudo isso sem nenhum acompanhamento médico.



Entre os medicamentos mais consumidos pelos jovens estão os analgésicos e antibióticos, inalantes e tranquilizantes, medicamentos para emagrecimento e ansiedade, xaropes, anabolizantes e medicamentos para disfunção erétil.

O aumento do consumo de medicamento para disfunção erétil por jovens tem se tornado um agravante. Medicamentos como o Pramil estão virando combustível para esse público. O que muitos jovens não sabem é que os medicamentos para disfunção erétil não funcionam como um afrodisíaco que vai renovar a vida sexual. Elas não têm efeito sobre a fertilidade ou sobre o desejo, impulso e apetite sexuais, são usados para o tratamento de problemas de ereção.






Além dos remédios para dificuldade de ereção, remédios para emagrecer, como sibutramina, Desobesi, Inibex, que necessitam de receita para a compra, e também de outros, como o Rivotril tem sido consumidos largamente por essa faixa etária.


O hábito da automedicação praticado por jovens é ainda mais preocupante em função das misturas perigosas que eles costumam fazer, por exemplo:


• Alguns medicamentos tranqüilizantes com álcool podem levar ao estado de coma e causar até mesmo a morte do usuário.


• Medicamentos para emagrecer (anorexígenos) com álcool e tabaco podem aumentar o risco de doenças cardíacas e respiratórias.


Uma pesquisa realizada com 10 pessoas com a idade situada entre 17 e 20 anos demonstrou os seguintes resultados quanto à utilização de medicamentos:



Tais resultados demonstram que apenas a metade os utiliza com prescrição médica e ainda menos lêem a bula. Todos, entretanto, possuíam medicamentos à disposição em suas residências, o que provavelmente contribui para a diminuição dos dois primeiros fatores, pois induz a automedicação, inutilizando a prescrição médica e aumentando a ineficácia do medicamento, caso tal ação se torne um hábito, no caso de, principalmente, antibióticos, como já foi descrito no blog.


Fonte:


ANVISA.

Uso Indiscriminado de Medicamentos em Crianças.


A utilização de medicamentos em crianças é um assunto importante e polêmico. As crianças não são adultos em miniatura e são poucos os estudos científicos realizados com essa faixa etária, por causa dos problemas éticos e legais. Crianças, principalmente os bebês, necessitam de uma atenção especial porque elas reagem aos medicamentos de forma diferente dos adultos e estão mais sujeitas a casos de intoxicações.


A facilidade no acesso a remédios, o forte apelo da publicidade e a recorrente alegação da “falta de tempo" para levar os filhos ao médico, faz com que muitos pais façam do uso indiscriminado de medicamentos em crianças um hábito. Especialistas, entretanto, alertam que, em excesso, os remédios trazem mais males que benefícios. Mesmo aqueles que podem ser comprados sem prescrição médica podem causar danos irreversíveis à saúde da criança se usados de forma incorreta ou sem necessidade. Estudos têm apontado que as principais classes terapêuticas utilizadas em crianças são anti-inflamatórios não-esteroidais, analgésicos e antibióticos. A freqüência da automedicação em crianças tem se mostrado elevada em vários estudos e isso tem se tornado um fator preocupante.


De acordo com um estudo realizado pela Dra. Lúcia Ferro Bricks, pediatra do Hospital das Clinicas, de São Paulo, os medicamentos dados para crianças além de serem usados sem prescrição médica, são ingeridos com erros de dosagem e por tempo inadequado.


Embora muitos pais e responsáveis aleguem que não dão medicamentos fortes às crianças, é importante saber que nem sempre é a potência do remédio que importa, mas sim a dose, que pode causar sérios danos à saúde da criança. A administração de analgésicos como o ácido acetilsalicílico em casos de suspeita de dengue, por exemplo, não é recomendada. A doença costuma apresentar sintomas comuns aos de resfriados e pode induzir o uso de medicamento errado, ocasionando até a morte da criança por hemorragia. Da mesma forma o paracetamol, outro tipo de medicamento muito utilizado para dor e febre, pode causar lesões no fígado. Já o uso inadequado de antibióticos pode promover uma resistência das bactérias, tornando o tratamento posterior muito mais difícil.


Uma pesquisa realizada pela Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santana Catarina (UFSC), em 2003 e 2004, mostrou que crianças maiores de sete anos são as que mais recebem remédios sem prescrição médica, já que os pais sentem-se inseguros em dar medicamentos para filhos mais novos. Dentre os fatores que facilitam a automedicação, está a conhecida "farmácia caseira". Os pais guardam em casa alguns medicamentos que sobraram de tratamentos anteriores e se baseiam em prescrições médicas antigas para medicar seus filhos. Nesse estudo, constatou-se que 56,6% de crianças e adolescentes consumiam medicamentos sem prescrição médica. Os maiores responsáveis pela automedicação e indutores seriam as mães (51%) e funcionários de farmácias (20,1%). 15,3% consumiram medicamentos a partir de prescrições médicas antigas. Mas, para surpresa dos pesquisadores, somente 1,8% disseram ter ingerido medicamentos por influência da mídia. Outro resultado de destaque da pesquisa foi que, embora a prevalência do consumo de medicamentos prescritos seja mais alta em lactantes e pré-escolares, quanto menor a faixa etária, maior a insegurança dos cuidados em aceitar uma orientação leiga. O estudo constatou menor freqüência de automedicação em crianças menores de 7 anos.

Dificuldades nos atendimentos em prontos-socorros, farmácias e em postos de saúde também são considerados agravantes do uso indiscriminado de medicamentos em crianças, fazendo com que os pais façam um estoque de medicamentos para tratar doenças consideradas menos sérias.
Como geralmente os medicamentos são indicados pelos pais, principalmente a mãe, a prática constante faz com que a criança se acostume a ingerir medicamentos facilmente, levando o hábito para a vida adulta.

Uma vez que a automedicação dificilmente poderá ser eliminada, é necessário que a sociedade se adapte, recebendo informação científica sobre os medicamentos de venda livre, sem estímulo ao consumo desenfreado ou ao mito de cura milagrosa, ao mesmo tempo em que seja incentivada a procura do profissional médico, revelando os pontos positivos que uma consulta médica pode ter em relação à automedicação.


Cuidados ao utilizar medicamentos em crianças.


* Não dê medicamentos de “USO ADULTO” para crianças, use apenas os medicamentos de “USO PEDIÁTRICO”.


* A receita médica deve ser clara quanto à forma de administração, dosagem e tempo de duração de tratamento.


* Não suspenda um medicamento antes do prazo de uso estipulado pelo médico. Qualquer dúvida, converse com o médico pediatra.


* Não use medicamentos contra tosse e resfriado em crianças com menos de dois anos de idade, a não ser que você receba orientações específicas do médico para utilizá-los.


Lembre-se: O remédio que você toma, ou aquele que o filho da sua vizinha usa, pode ser prejudicial para o seu filho.
Para evitar intoxicações, nunca guarde os medicamentos
em locais de fácil acesso para crianças (gavetas ou armários
baixos).


Fonte:



domingo, 12 de dezembro de 2010

Consumo Indiscriminado de Medicamentos no Brasil.



O consumo indiscriminado de medicamentos no Brasil é um grave problema de saúde pública. No Brasil existe uma farmácia (ou drogaria) para cada 3.300 habitantes e o país está entre os dez que mais consomem medicamentos no mundo, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia.


Se por um lado existe a grande dificuldade de acesso aos medicamentos, sobretudo pela camada da população de menor poder aquisitivo, há também elevado índice de uso indiscriminado dos medicamentos que tem gerado sérios agravos à saúde da população.Os medicamentos são responsáveis pelo maior número de intoxicações humanas registradas no Brasil desde 1999 até 2008. Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicos (Sinitox – Fiocruz), as intoxicações humanas causadas pelos medicamentos superam todos os demais agentes registrados como, produtos químicos, agrotóxicos, animais peçonhentos, entre outros. Em 2008, mais de 30% das intoxicações registradas foram devidas a medicamentos. Cabe ressaltar que os pesquisadores desta área apontam ainda que, mesmo com esse elevado número de intoxicações, estima-se que haja sub-notificação dos casos de registros de intoxicação medicamentosa já que, quando os sintomas da intoxicação são leves a maioria dos pacientes não procura auxilio.


A Lei Federal que regulamenta o comércio de medicamentos no Brasil é do início da década de 1970 (Lei N. 5991/73) e foi elaborada em um contexto singular, quando haviam poucos estabelecimentos no País. Com o advento da chegada das indústrias estrangeiras de medicamentos e o crescimento econômico do País, criou-se um ambiente favorável à proliferação de farmácias e drogarias, desvirtuando do seu propósito de estabelecimento de saúde e cada vez mais com características de ponto de vendas de medicamentos e outros insumos.A partir da década de 1970, estes estabelecimentos foram incorporando cada vez mais características comerciais e menos de ordem sanitária.Apesar das legislações específicas quanto às exigências sanitárias como o alvará da Vigilância Sanitária e obrigatoriedade de presença do farmacêutico responsável técnico, as farmácias e drogarias espalharam-se pelo país movidas por interesses comerciais, ampliando e diversificando cada vez mais os produtos e serviços ofertados à população.Produziu-se assim no Brasil, uma inversão completa do modelo original e ainda existente na Europa onde a dispensação de medicamentos sob a orientação do farmacêutico é função primordial da farmácia. No Brasil, o medicamento é mais um produto que deve ser vendido com todas as estratégias possíveis de venda, ou seja, comissões, brindes, venda casada, enfim, uma simples mercadoria com qualquer outra exposta.


Os resultados estão aí: recordes de intoxicação medicamentosa a cada ano, elevados índices de automedicação, práticas inaceitáveis como bonificação por vendas, empurroterapia (forçar a venda) que caracterizam as farmácias e drogarias como um sério problema de saúde pública em nosso país.Diante deste quadro, a sociedade civil organizada, instituições de saúde, sindicatos de profissionais, universidades e autoridades sanitárias iniciaram ações no sentido de pelo menos minimizar esta situação. A publicação recente da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 44/09 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, foi fruto de discussão e entendimento da sociedade brasileira com o intuito de regulamentar as farmácias e drogarias, evitando que sejam totalmente descaracterizadas e incentivando a retomada inicial da sua missão como estabelecimentos de saúde.


Infelizmente o que se têm visto são ações na justiça solicitando o não cumprimento da referida resolução. E os interessados estão obtendo liminares assegurando, inclusive, o direito de manter os medicamentos vendidos sem prescrição médica ao alcance dos consumidores, sem que os mesmos sejam restritos somente ao acesso dos funcionários. Estas atitudes e decisões ferem o previsto na Constituição Federal e a saúde pública, indo ao encontro de interesses individuais.


Fazer da farmácia um estabelecimento de saúde - uma atividade de interesse social e não apenas um comércio lucrativo - é tarefa que somente logrará êxito com a participação de toda a sociedade e suas organizações.A busca desenfreada pelo lucro, baseada em práticas comerciais abusivas, não pode se sobrepor aos preceitos éticos e técnicos que a atividade requer. O cidadão precisa ser respeitado em seus direitos fundamentais. À farmácia cabe a responsabilidade de estabelecimento sanitário irradiador de noções básicas sobre cuidados da saúde e de promoção do uso racional de medicamentos.


Fonte:


Consumo Indiscriminado de Medicamentos no Mundo.



A automedicação é uma forma comum de auto-atenção à saúde, consistindo no consumo de um produto com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou doenças percebidos, ou mesmo de promover a saúde, independentemente da prescrição profissional. Esta prática pode ser observada por diversas formas como: adquirir o medicamento sem receita, compartilhar remédios com outros membros da família ou do círculo social, utilizar sobras de prescrições, reutilizar antigas receitas e descumprir à prescrição profissional, prolongando ou interrompendoprecocemente a dosagem e o período de tempo indicados na receita.


Vários fatores econômicos, políticos e culturais têm contribuído para o crescimento e a difusão da automedicação no mundo, tornando-a num problema de saúde pública. Para os países pobres, oacesso da população aos serviços de atenção formal à saúde é dificultado, os gastos com a produção e distribuição de medicamentos essenciais são contidos. Nos países desenvolvidos, cresce a pressão para a conversão de medicamentos POM (Prescribed Only Medicines), de venda condicionada à apresentação da receita, em medicamentos OTC (Over-the-Counter), vendidos livremente. Ao mesmo tempo, os planos de saúde restringem o reembolso dos gastos com medicamentos prescritos. Ou seja, mais disponibilidade de produtos no mercado gera maior familiaridade do usuário leigo com os medicamentos e isso contribui para o consumo indiscriminado.


Um estudo demonstrou que, durante um período de observação, 113.000 pessoas morreram nos Estados Unidos devido a reações colaterais de remédios ou por erros nas prescrições. O grupo vitimado por prescrições erradas somou 7.000 pessoas daquele total, logo podemos ver que a vasta maioria sofreu daquilo que naturalmente chamamos de "reações colaterais" dos medicamentos receitados pelos seus médicos.


Estimativas declaram que morrem, no mínimo, 225.000 pessoas por ano nos Estados Unidos vitimas de tratamentos médicos convencionais, fazendo com que isso seja considerada a TERCEIRA maior causa de mortes no ocidente, perdendo apenas para doenças cardíacas e câncer. Um quadro similar pode ser visto na Grã-Bretanha.


O MCA (Medicines Control Agency – Agência de Controle de Medicamentos), que monitora a segurança dos medicamentos após entrarem no mercado, demonstrou que, no ano 2000, 33.109 reações adversas de remédios foram reportadas, sendo que 14.500 delas foram consideradas graves, resultando em 600 casos de morte.


Os profissionais de saúde se preocupam em curar e/ou amenizar o sofrimento dos pacientes, dedicando-se a isso da maneira mais intensa possível. Ninguém pode desejar que pacientes morram devido a procedimentos médicos. Se isso ocorresse na indústria aeronáutica, providencias seriam tomadas e a segurança de vôo seria restabelecida, fazendo com que os passageiros voltassem a utilizar os serviços da companhia aérea afetada. Com os pacientes, isso não ocorre. Dentro de uma estimativa muito conservadora, medicamentos matam ao redor de 113.000 pessoas por ano somente nos Estados Unidos. Isso não poderia acontecer!


A situação se agrava, pois os médicos se comportam seguindo cegamente o que lhes é propagado pelas indústrias farmacêuticas que, dependendo dos estudos feitos para cada medicamento a ser lançado no mercado, somente enfatizam os efeitos benéficos, sendo que os contra-efeitos serão conhecidos apenas com o passar do tempo.


O que fazer para reverter essa situação? Seria ideal que a mídia e os governantes passassem a se interessar pelo tema e que os órgãos regulamentadores trabalhassem de forma mais eficaz, de preferência focando na educação da população quanto ao uso racional de medicamentos, seus prós e contras.


Do que adianta bilhões de medicamentos serem produzidos anualmente em todo mundo se isso contribui para o agravamento da saúde da população mundial?